Era para ser um trabalho da Interdisciplina Representação
do Mundo pelos Estudos Sociais, mas tornou-se uma jornada interna aos
sentimentos. Nossas memórias e guardados, nossos registros de momentos, nossas
ideias e pensamentos ficam, muitas vezes, esquecidos num lugar que não sabemos
identificar. Temos a certeza de poder retornar a este lugar e reviver tudo,
mesmo que por lembranças, mas não praticamos este exercício de reflexão e
autoconhecimento. Mas para fazer o mencionado trabalho, pratiquei. E foi muito
bom!
Para iniciar a escrita foi necessário, primeiramente,
repensar que registros eu tinha da minha caminhada como professora. Iniciei
revendo fotos bem antigas, da primeira turma. Foi em 2005. Aprendendo a cada
dia com aquelas turmas que foram verdadeiros desafios, não por suas atitudes ou
questionamentos, mas por minha inexperiência docente. Nem imaginam quanto me
ensinaram! E com esta primeira turma estava também meu primeiro celular com
câmera. Antes do celular, não tinha nenhum registro meu com alunos. Então, para
dar continuidade ao trabalho pensei em fazer uma retrospectiva. Logo mudei de
ideia porque percebi, que ao observar minhas fotos antigas, a intenção das
fotos era diferente das fotos que temos hoje. Por isso, selecionei fotos de
2005 e de 2015.
Neste intervalo de década, muitas coisas mudaram. As câmeras
evoluíram, os celulares ficaram mais potentes. Rapidamente se obtém uma
fotografia de alta qualidade, se observa em uma tela de boa definição e se pode
compartilhar ou arquivar a foto. Não somente estas características mudaram, como
minha relação com as fotografias de celular. Os momentos registrados ou as
intenções de registro se alteraram. Nossa perspectiva com as fotografias mudou.
Registrar para ver depois, relembrar depois, não é mais como era há uma década
atrás.
Nas fotografias de 2005, notoriamente em qualidade inferior
às fotos atuais, predominavam registros de momentos escolares mais específicos:
especiais, eventos, atividades diferenciadas da rotina. As fotos atuais
carregam um conteúdo quase de registro diário, talvez uma ânsia de manter cada
momento eterno nas fotografias. Perdi o pudor de registrar, aumentei o
repertório de “interesses” fotográficos e tornei a câmera uma espécie de HD
externo da mente. Mesmo registrando tanto, não costumo revisitar estes
registros. Sei que estão salvos nos arquivos. Sei que se precisar recordar,
basta ir na data desejada e encontrar o registro.
Uma possibilidade de aprendizagem ou manipulação? Os dois!
Revisitar os fatos possibilita a aprendizagem e a reflexão. Notei que minha
postura era diferente, lembrei de como eu pensava diferente. Rever aqueles
momentos traz de volta, na memória, os sons, cheiros e pensamentos que tinha no
momento da fotografia. Não registrava banalidades ou registros de “vou
fotografar, pois posso precisar desta informação depois”. Fotografava para ter
um registro de um momento importante, algo que estava fora dos momentos
habituais e que merecia um registro. Ainda carregava comigo o pudor das
máquinas fotográficas com filme, quando registrávamos com muito cuidado os momentos
que caberiam nas 12/24/36 poses.
Nas fotos atuais o viés “para recordar” existe em menor
intensidade. Predomina “vou usar depois, vou compartilhar, vou mostrar”. Neste
sentido a manipulação da memória se encarrega de demonstrar que a perspectiva de
registros mudou bastante. Os momentos fotografados são sim registros para
lembrar, mas (muito mais) para mostrar, testemunhar, ter para ver depois,
compartilhar.
Os nossos hábitos mudam, as coisas que nos rodeiam mudam, e
nossa impotência diante do tempo e do espaço permanecem. No entanto, o que foi
(o que vivemos), permanece, fica. O que aconteceu, o que éramos, para sempre
será!
Referência:
FELIZARDO, Adair; SAMAIN, Etienne. A
fotografia como objeto e recurso de memória. Discursos fotográficos.
Londrina, v.3, n.3, p.205-220, 2007. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/view/1500/1246>
Acesso em: 20 set. 2016.
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