sábado, 24 de dezembro de 2016

Nada será como antes, mas sempre será!


Era para ser um trabalho da Interdisciplina Representação do Mundo pelos Estudos Sociais, mas tornou-se uma jornada interna aos sentimentos. Nossas memórias e guardados, nossos registros de momentos, nossas ideias e pensamentos ficam, muitas vezes, esquecidos num lugar que não sabemos identificar. Temos a certeza de poder retornar a este lugar e reviver tudo, mesmo que por lembranças, mas não praticamos este exercício de reflexão e autoconhecimento. Mas para fazer o mencionado trabalho, pratiquei. E foi muito bom!
Para iniciar a escrita foi necessário, primeiramente, repensar que registros eu tinha da minha caminhada como professora. Iniciei revendo fotos bem antigas, da primeira turma. Foi em 2005. Aprendendo a cada dia com aquelas turmas que foram verdadeiros desafios, não por suas atitudes ou questionamentos, mas por minha inexperiência docente. Nem imaginam quanto me ensinaram! E com esta primeira turma estava também meu primeiro celular com câmera. Antes do celular, não tinha nenhum registro meu com alunos. Então, para dar continuidade ao trabalho pensei em fazer uma retrospectiva. Logo mudei de ideia porque percebi, que ao observar minhas fotos antigas, a intenção das fotos era diferente das fotos que temos hoje. Por isso, selecionei fotos de 2005 e de 2015.

Neste intervalo de década, muitas coisas mudaram. As câmeras evoluíram, os celulares ficaram mais potentes. Rapidamente se obtém uma fotografia de alta qualidade, se observa em uma tela de boa definição e se pode compartilhar ou arquivar a foto. Não somente estas características mudaram, como minha relação com as fotografias de celular. Os momentos registrados ou as intenções de registro se alteraram. Nossa perspectiva com as fotografias mudou. Registrar para ver depois, relembrar depois, não é mais como era há uma década atrás.
Nas fotografias de 2005, notoriamente em qualidade inferior às fotos atuais, predominavam registros de momentos escolares mais específicos: especiais, eventos, atividades diferenciadas da rotina. As fotos atuais carregam um conteúdo quase de registro diário, talvez uma ânsia de manter cada momento eterno nas fotografias. Perdi o pudor de registrar, aumentei o repertório de “interesses” fotográficos e tornei a câmera uma espécie de HD externo da mente. Mesmo registrando tanto, não costumo revisitar estes registros. Sei que estão salvos nos arquivos. Sei que se precisar recordar, basta ir na data desejada e encontrar o registro.
Uma possibilidade de aprendizagem ou manipulação? Os dois! Revisitar os fatos possibilita a aprendizagem e a reflexão. Notei que minha postura era diferente, lembrei de como eu pensava diferente. Rever aqueles momentos traz de volta, na memória, os sons, cheiros e pensamentos que tinha no momento da fotografia. Não registrava banalidades ou registros de “vou fotografar, pois posso precisar desta informação depois”. Fotografava para ter um registro de um momento importante, algo que estava fora dos momentos habituais e que merecia um registro. Ainda carregava comigo o pudor das máquinas fotográficas com filme, quando registrávamos com muito cuidado os momentos que caberiam nas 12/24/36 poses.
Nas fotos atuais o viés “para recordar” existe em menor intensidade. Predomina “vou usar depois, vou compartilhar, vou mostrar”. Neste sentido a manipulação da memória se encarrega de demonstrar que a perspectiva de registros mudou bastante. Os momentos fotografados são sim registros para lembrar, mas (muito mais) para mostrar, testemunhar, ter para ver depois, compartilhar.
Os nossos hábitos mudam, as coisas que nos rodeiam mudam, e nossa impotência diante do tempo e do espaço permanecem. No entanto, o que foi (o que vivemos), permanece, fica. O que aconteceu, o que éramos, para sempre será!

Referência:
FELIZARDO, Adair; SAMAIN, Etienne. A fotografia como objeto e recurso de memória. Discursos fotográficos. Londrina, v.3, n.3, p.205-220, 2007. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/view/1500/1246> Acesso em: 20 set. 2016.


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