Não sou.
Sou surda.
Para mim, a língua de sinais corresponde à minha voz, meus olhos são meus ouvidos.
Sinceramente nada me falta.
É a sociedade que me torna excepcional..."
O vôo da gaivota
Emmanuelle Laborrit
Na disciplina de LIBRAS tive meu primeiro contato com a linguagem de sinais e a cultura que a circunda. Não foi fácil este contato, principalmente porque não participei das aulas presenciais. Também penso que teria igual dificuldade se as tivesse. É uma grande quantidade de informações, uma disciplina apenas não contempla o mínimo necessário para que eu consiga me comunicar. Muitos aprendizados eu busquei na internet. Há muito material de apoio.
Mas enfim, esta postagem não é sobre isso.
Uma das reflexões que fiz foi sobre a questão da "deficiência" auditiva. Uma pessoa surda é um "deficiente"? se consideram deficientes? Ser surdo, é deficiência?
No vídeo "SOU SURDA E NÃO SABIA" a reflexão é oportunizada com a fala final de uma surda.
Por muito tempo ela acredito "não pertencer a este planeta". Ficava a espera, que a buscassem, onde poderia ser compreendida. E em sua fala final nos convida: será que são os surdos que devem se "adequar"? Eles precisam ser incluídos a modos dominantes de agir, pensar, sentir e se expressar?
A surdez associada a uma condição patológica, deficiente, incapacitante, que deve ser “curada” por meio de próteses, terapias de fala, treinamentos auditivos e aprendizados de comportamentos ouvintes não oferece outra saída ao surdo senão a superação da não-audição. Desconsidera-se o arcabouço cultural da surdez.
"Novos termos são propostos, antigas ideias são revistas. A urgência de outros olhares evidencia-se pelo fracasso perpetrado por velhas políticas de inclusão, que implicam – e implicaram – inúmeros prejuízos para muitos surdos.
No site Cultura Surda (https://culturasurda.net/breve-introducao/) esta discussão está muito bem explicitada: "Vê-se, atualmente, o fervilhar das culturas surdas e o empoderamento desses grupos linguísticos minoritários. Intensificam-se as empreitadas políticas, bem como as jornadas pelo direito à educação bilíngue-bicultural. Firma-se, sobretudo, a ascensão de novas demandas sociais.
Por essas perspectivas, a surdez ultrapassa os arames da área biomédica e desloca-se para o domínio dos Estudos Culturais. “Ser Surdo” passa a ser percebido como mais um dos modos de existir, fundado na experiência visual e no uso das línguas de modalidade viso-motora (as línguas gestuais), e legitima-se mais como um atributo cultural construído historicamente que como uma experiência unívoca e inexorável de um corpo mutilado".
Por toda minha dificuldade em me comunicar em LIBRAS, entendo que não se trata somente de um conjunto de sinais e gestos com a mão, corpo e rosto. É um conjunto cultural. É um espaço que precisa ser mais explorado, é uma linguagem.
Ser surdo”, é diferente de ser “deficiente auditivo” (aquele que não reconhece as práticas culturais surdas e que, tampouco, expressa uma identidade Surda). Surdo é palavra usada e preferida por muitos sujeitos Surdos e, ao contrário do que alguns acreditam, não soa depreciativa ou ofensiva. è uma palavra que denota toda a questão teórica, estética e política da surdez e não significa, pejorativamente, inabilidade de linguagem.
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