"O que se faz na sua escola, afinal? Vocês brincam ou estudam?" Imaginem a cena: os pais questionando a criança que relatava sobre um jogo que lhe foi proposto na escola. Os pais, inconformados, questionam a escola sobre sua conduta de propor brincadeiras para as crianças, ao invés de "estudos". "Não achamos certo você ir para a escola para brincar, escola é feita para estudar".
Quando imaginamos a situação, mesmo hipotética, não podemos descartar que muitos pais se questionem quando saibam que seus filhos vêm desenvolvendo brincadeiras na esccola.
Quando lhes propomos uma brincadeira, ainda que utilizando
a imaginação, estamos lhes propondo conexões neurais que não existiam anteriormente.
A imaginação trabalha e estimula sentimentos diferentes e percepções em
diversas áreas do cérebro. Rapidamente a sensação ruim é percebida e busca-se
um modo de resolver tal problema, sair daquela situação ou eliminar a
circunstância. Assim funcionam, também, as brincadeiras na escola.
Quando propusemos atividades que são interpretadas pelas
crianças como brincadeiras ou jogos, estamos na realidade oportunizando um modo
de imitar a realidade, simulando esta ou transformando-a em algo desejável. Crescemos
intelectualmente com as brincadeiras. Aprendemos com as brincadeiras desde a
tenra idade, quando manipulamos diferentes objetos em busca de texturas,
formas, sons e cores diferentes, depois aprendemos a lidar com os jogos e
situações hipotéticas até a utilização da lógica e da estratégia de pensamento
para resolução de problemas.
Na infância,
todo aprendizado é válido: aprendem a lidar com as vitórias, as frustrações, os
desejos, a alegria e a dor. Nas brincadeiras (principalmente coletivas)
apresentam-se também facetas das personalidades dos outros (individualismo,
agressividade, amorosidade, compaixão) e estas tornam-se essenciais ao
conhecimento de como lidar com as pessoas. A criança entende, na prática da
brincadeira, que o mundo também pertence aos outros.
Outro aspecto importante oferecido pelas brincadeiras é a
melhora nas relações interpessoais entre as crianças. Além das dificuldades
pedagógicas numa sala de aula, os conflitos que precisamos administrar nos demandam
muito tempo e energia. Melhorar a convivência é um investimento que nos trará
retorno pedagógico, certamente.
Muitas vezes interpretadas como “perda de tempo” ou "futilidades
desnecessárias", as brincadeiras e o prazer na escola tinham um distanciamento que desconectavam o aprendizado e as atividades lúdicas. Há um distanciamento histórico da escola em relação ao prazer
da criança (SOMMERHALDER & ALVES 2011) por vincular as brincadeiras e jogos
ao prazer e à vida imaginativa, distantes do que se deseja na escola (atenção,
rigidez, disciplina).
A escola, como espaço educacional exige responsabilidades.
A escola não se compromete com a oferta de jogos e brincadeiras estéreis e
repetitivas. Do contrário, oportuniza a criação de jogos, a remodelação das
regras e a intervenção criativa das crianças no jogo. Neste ambiente de criação, a educação será muito mais efetiva e verdadeira se
ocorrer com prazer e alegria, afeto e cooperação, desafios e soluções.
As teorias e práticas atuais da Educação e da Neurociência nos utorizam a brincar na escola e
dar um novo significado aos jogos: que assumam a posição de potencializadores
de experiências para as crianças. A atividade lúdica torna a aprendizagem
fértil e facilitada, pois o aprender caminha ao lado da criação, não da reprodução (SOMMERHALDER & ALVES 2011).
REFERÊNCIAS:
SOMMERHALDER, A; ALVES, F. D. Jogo e a educação da
infância: muito prazer em aprender. -1 ed.-Curitiba, PR: CRV, 2011.
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