terça-feira, 21 de maio de 2019

27/05 ATÉ LOGO, FOI UM PRAZER!

Entenda que dizer "até logo" para este blog não é tão simples assim quanto pensei que seria. Entenda que fui "escritora" nestes 9 semestre e neles registrei muitos passos importantes dessa reconstrução no curso de Pedagogia. Não aprendi a ser pedagoga, reavaliei como ser professora. Algumas vezes com mais facilidade, noutras sob duras penas. Sorri e chorei tanto, briguei e abracei tanto. Tantas vezes pensei em desistir e muito mais vezes me desafiei a persistir.
Neste "até logo" que sinaliza a possibilidade de um retorno, deixo registrado meu apego ao curso e ao processo que ele permitiu. Dizer "adeus" seria forte demais. Deixo as portas abertas para voltar, reavaliar, reescrever, desconstruir e reconstruir quantas vezes forem necessárias. 
Todas essas aprendizagens aqui registradas mostram como fui modificando o olhar. Aquele olhar que nos convidou a "olhar a escola" de um jeito diferente quando fizemos nosso "Retrato da Escola".

Observamos tantas mudanças políticas, econômicas e sociais durante o curso: nossa Educação sofrendo cortes, desmontes, ataques, difamações. Assistimos a democracia e os direitos serem reduzidos drasticamente. Observamos de camarote a destruição de longos anos de luta de ganhos para o povo. Agora, somente perdas. Agora, somente o resto. 
Neste processo interno e externo de modificações, cresci. Avalio que sim, cresci mesmo. E assim, cumprida a missão! Estudar Pedagogia é um convite: a nós mesmos, ao redor, ao outro, ao todo, sob um olhar que não somente olha: enxerga por diferentes olhares. Estes olhares que dão a volta, mudam de lugar. 
Foi uma caminhada e tanto. Até logo, foi um prazer!

segunda-feira, 20 de maio de 2019

20/05 DESCOBERTAS ESPONTÂNEAS INCENTIVADAS

Não nos permitimos explorar materiais despretensiosamente. Não nos ofertamos isso. Temos pouco tempo, afinal. E este pouco tempo que temos é um tempo que temos para "fazer alguma coisa".
Mas na aula de artes isso pode acontecer. E aconteceu. E mesmo que em uma pequena amostra, pudemos nos colocar no local onde nossos alunos estão: os lugares dos saberes infantis e da experimentação. O lugar das trocas e dos olhares espantados diante de uma pequena descoberta, uma novidade.
A aula de Artes permitiu este encontro. O encontro do nosso próprio tempo.  Este encontro que temos conosco quando nos permitimos brincar. Não sabíamos que seríamos expostas a nossa própria experimentação na aula de hoje. Fosse assim, nem sei se compareceria. Mas comparecemos. E foi muito bom estar naquela aula. Experimentando, dando um tempo para nós mesmas, pensando nas práticas que a Arte pode proporcionar entre os alunos.
Professor é mesmo muito estranho. Só para de pensar se for obrigado. E mesmo assim, pensa em como desenvolver o novo conhecimento.
Quando vamos mesmo nos permitir?



13/05 FALEM, PROFESSORES!

"Trabalhamos em gavetas. Somos compartimentos. Não temos tempo para pensar e planejar coletivamente; como escola, como professores, como Educação. E essas necessidades surgem quando os professores podem falar. E este espaço/tempo de fala é tirado, cada vez mais, do nosso fazer. E os saberes ficam compartimentados. E não temos nem espaço nem tempo para olhar o que o outro faz, o que ele é, o que ele sabe. Um espaço para que pudéssemos ter uma aproximação, um diálogo, uma possibilidade de construção para a Escola se perceber de outra maneira. Reavaliar sua caminhada e reorientar as trajetórias para construirmos sob forças unidas, não sob forças opostas."
Todas essas frases constituem frases ditas por professores. Professores de diversas áreas, diversas formações e histórias, diversas composições históricas pessoais e profissionais.
Quando chegar o Dia dos Professores seremos homenageados e nos homenagearemos.  E não haveria homenagem maior do que nos proporcionar momentos de escuta de nossas angústias como profissionais, sobre nosso fazer diário e nossa necessidade de externalizar nossa  construção como sujeitos e corpo coletivo. Muitos momentos em tom de desabafo, muitos momentos em tom de necessidade visceral de falar e ser ouvido neste ambiente que passamos grande parte de nossa vida. E trabalhamos com humanos, por humanos, para que sejam cada vez mais humanos. Sei e entendo que nossa existência humana não terá dias em que não tenhamos dores, críticas, punições. Mas hoje nosso trabalho foi forjado em nossa própria escuta. Foi importante. Foi mesmo.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

06/05 CORTE COM FACA SEM PONTA

No final da semana passada fomos golpeados. Professores, estudantes, pais...todos atingidos por uma facada das mais violentas, e de uma maneira assustadora, dados os argumentos oferecidos. Já fomos golpeados antes, certamente, e seremos ainda muitas vezes. Mas cada golpe dói de uma maneira diferente.
Estamos estarrecidos com os anúncios que o governo faz sobre as Universidades Públicas, sobre os cursos de Ciências Humanas, sobre a "importância" de alguns cursos e necessidades para o desenvolvimento do país. Sob a alegação econômica de uma matemática em que a "conta não fecha", sob as acusações de "balbúrdia" nos meios acadêmicos e sob o argumento de que algumas profissões trariam "retorno" para a sociedade brasileira, foram ameaçadas as verbas para o Ensino Superior. Agora sim estamos em uma verdadeira "Crise do Pensar", "Revisitando o Passado" e olhando ao nosso redor e percebendo a falta de esperança generalizada que nos assombra.
Pensar virou uma contravenção. Ofensivo. Ameaçador.
Produzir conhecimento também.
Lamento, Universidades Públicas, lamento o descaso e os ataques. Retrocedemos e precisaremos aprender a conviver com o tamanho deste prejuízo. 


domingo, 28 de abril de 2019

29/04 VEM DEBATER COM A GENTE!

Sala de aula é realmente um espaço lindo! Como são valiosos os momentos em que as pessoas "se dão conta" das coisas e levam aquilo consigo, reverberando por muito tempo aquela mensagem que precisa ser mais do que ecoada! Lembrei das escritas sobre preconceito de tempos atrás e de como podemos trabalhar e trazer à luz da reflexão construtiva esta abordagem. Nestas postagens, trabalhava a questão racial e hoje, neste post conto uma daquelas "tomadas de consciência" que aquecem nosso coração professor.
Debatíamos em sala de aula um video da neurocientista Suzana Herculano, que abordava as transformações no cérebro adolescente. Neste debate, veio a questão da preferencia sexual e da opção sexual. Os alunos contribuíram muito na dinâmica da aula e a questão da repressão das opções sexuais veio a tona, pois as pessoas não se sentem "permitidas" por suas questões familiares, religiosas, sociais...enfim, reprimem suas preferências e opções em nome do que a sociedade (ainda, infelizmente) julga como correto. Notei que traziam muitos casos de relato em que a homofobia foi presente na vida deles, e posicionaram-se sobre o preconceito sexual, de gênero, racial, religioso, social, racial.
No final da aula, perceberam como a aula mudou de rumo sem aquele tom "ameaçador" de doutrinação ou lavagem cerebral que muitos temem e imaginam que estes assuntos "polêmicos" possam configurar nas salas de aula. Foi um debate franco e aberto onde todos puderam ser escutados. 
Até que alguém disse "quando a gente fala desses assuntos tabus, quem sente estes preconceitos pode ser escutado. Pode se sentir parte, e dizer que a existência dele ou do jeito que ele é não é um jeito errado, nem proibido, nem ruim...é importante isso, né?"
E a professora, calada, sorri e sente que o rumo da aula, que mudou totalmente, era o rumo que precisava ser tomado. E que cada vez mais venham estas construções despretensiosas e naturais, plenas de significado para alunos e professores.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

22/04 NÃO TENHA MEDO DA ARTE

Arte é toda manifestação individual ou coletiva que expresse sentimentos e emoções, registre ou demonstre um momento histórico ou proteste contra este. Arte não é bonita. Arte não é feia. Tampouco é útil ou inútil. Simplesmente é arte. E só de ser, já é arte. Pode ser expressada através de diversas formas e materiais, desde os já conhecidos materiais de obras de arte até coisas inusitadas, ou até mesmo efêmeras. Precisa ser sentida, não somente vista. E este sentimento é dentro dos humanos, não através dos sentidos, necessariamente. Usamos os sentidos para informar nosso interior do que é a arte que estamos contemplando, mas a sentimos dentro de nós, em um processo muito íntimo e individual. Cada um sente do seu jeito.
E neste cenário político e social atual do Brasil, onde pensar parece uma contravenção, retorno ao dia da postagem mais triste do ano passado. Naquele dia, a arte da vida se manifestava em muitos olhares, em muitos gritos, em muitos pensamentos. Nem todos expuseram sua arte nas ruas, nem todos cantaram a canção que dizia o que sentiam, nem todos esculpiram o que lhes vinha do coração. Assim, nesta luta interna contra as forcas de uma sociedade cega e atendendo ao clamor popular, a injustiça foi feita. Com arte ou sem arte, sentimos: ou ódio ou alegria.
Em franca reflexão do papel da arte em nossas vidas, reitero o quanto esse dia foi triste, bem como seu registro fotográfico artístico. O que não imaginávamos era como as coisas se desenrolariam dali para a frente, ou se enrolariam mais ainda. E viveríamos tempos retrocessos, onde até a arte, ou talvez principalmente a arte seja questionada. 
Eu sigo com minhas impressões iniciais, onde não coloco a arte como útil ou necessária, mas uma excelente oportunidade em nossas vidas de nos conhecermos. Procuramos utilidade em tudo, queremos saber para que servem. Pois bem, a arte serve para nos transformar. Mesmo as obras clássicas nos transformam, imagine o que nos provocam as obras contemporâneas que nos colocam, muitas vezes, como protagonistas da própria arte. Não esperamos encontrar a arte somente em museus ou galerias, teatros ou igrejas. Que sejamos capazes de ver a arte em diversos espaços onde ela se manifesta, com cada vez mais novas possibilidades de materiais de exploração para exprimir os sentimentos dos artistas.
A humanidade ainda tem muito a caminhar em torno de seu próprio conhecimento como espécie e todas as nuances que nela encontramos. Para isso a arte “serve”, para isso ela existe. Nos traz sentimentos, nos indaga, nos mostra, nos desacomoda, nos perturba. Mas também, nos ensina a pensar em nós mesmos, no que sentimos e no que temos feito de arte em nossas vidas.

domingo, 14 de abril de 2019

15/04 FAZENDO ARTE


"Crianças arteiras" são aquelas que se diz "fazem muitas artes", no sentido de peraltices, bagunças. Aquelas que quando fazem silêncio é porque estão "fazendo arte". 
Assim são as crianças daqui de casa, provavelmente são também tantas outras que conhecemos. Fazem coisas "proibidas", descobrem coisas em armários e experimentam sensações que não seriam possíveis diante de nossos olhos cuidadores. Se aventuram em situações que podem colocar em risco sua integridade física, nos trazem joelhos e cotovelos ralados, cabeças com galos, cortes nos dedos. Nos mostram novos cortes de cabelo, unhas finamente decoradas e uma remodelação das próprias roupas. No mais puro sentido, estão "fazendo arte". E neste processo estão crescendo, se desenvolvendo fisicamente e intelectualmente. Experimentam e expressam, sentem e fazem sentir.  
Na arte de seu desenvolvimento, manifestam através de suas habilidades os seus sentimentos e suas emoções. Desenham, pintam, modelam, dançam, cantam, encenam, imitam. Simplesmente surpreendem, simplesmente. Fazem de sua fase da vida, uma obra de arte que precisa ser admirada, protegida e respeitada como legítima e importante. 
Pensar nas crianças como artistas natos é dar-lhes o aval para que criem e deixem toda sua criatividade e expressividade explicar o mundo que estão descobrindo. Que possam, sem padronizações, nos mostrar as possibilidades de entender o mundo.
No sentido contrário, na Educação formal, muitas vezes, encontramos um outro caminho sendo trilhado. Não por falta de vontade ou desejo de uniformizar, as vezes até mesmo por falta de profissionais habilitados para a tarefa. No currículo, Artes é presente quando é viável. Quando não ocorre assim, é um momento de propor atividades diferentes das propostas pelas outras áreas do conhecimento. 
Esta perspectiva, confesso, penso agora com as provocações da disciplina de Artes Visuais e Educação. E repensando, como as propostas são feitas para meus filhos, para meus alunos, para nós mesmas como alunas neste momento ainda. E pensando em como nosso desenvolvimento poderia ter oferecido mais momentos de “arte”. Sabiamente, nossa professora de Artes, Susana Rangel, nos alerta:
Em um contexto mais específico da educação formal, seja da Educação Infantil ao ensino universitário, na maioria das vezes, o ensino de arte e também outras áreas do conhecimento, ao invés de promover ações pedagógicas que levem crianças e adultos ao universo da criação e estruturação da linguagem visual, acaba tolhendo os modos singulares dos alunos entenderem e expressarem suas leituras e relações com o mundo. 

Não se trata, portanto de uma questão ligada somente ao ensino de Artes. Neste momento o enfoque é este, mas a longo prazo e, talvez em tempo de salvarmos nós mesmo de um colapso criativo, talvez essa reflexão seja a chance de mudarmos muitas perspectivas.
Fui por diversos pensamentos neste texto, eu sei. Talvez estivesse pensando artisticamente, ou pensando sobre a liberdade das crianças poderem fazer suas artes. E quando pensarmos nas crianças arteiras, que possamos também pensar nas suas artes. Pensarmos nas crianças que são, na verdade, artistas. E, principalmente, não esqueçamos que podemos também ser adultos arteiros artistas.

DA CUNHA, Susana Rangel Vieira. Como vai a Arte na Educação Infantil? Educação Presente. CEAP, Salvador: v. 56, p. 4-12, 2007.