domingo, 14 de abril de 2019

15/04 FAZENDO ARTE


"Crianças arteiras" são aquelas que se diz "fazem muitas artes", no sentido de peraltices, bagunças. Aquelas que quando fazem silêncio é porque estão "fazendo arte". 
Assim são as crianças daqui de casa, provavelmente são também tantas outras que conhecemos. Fazem coisas "proibidas", descobrem coisas em armários e experimentam sensações que não seriam possíveis diante de nossos olhos cuidadores. Se aventuram em situações que podem colocar em risco sua integridade física, nos trazem joelhos e cotovelos ralados, cabeças com galos, cortes nos dedos. Nos mostram novos cortes de cabelo, unhas finamente decoradas e uma remodelação das próprias roupas. No mais puro sentido, estão "fazendo arte". E neste processo estão crescendo, se desenvolvendo fisicamente e intelectualmente. Experimentam e expressam, sentem e fazem sentir.  
Na arte de seu desenvolvimento, manifestam através de suas habilidades os seus sentimentos e suas emoções. Desenham, pintam, modelam, dançam, cantam, encenam, imitam. Simplesmente surpreendem, simplesmente. Fazem de sua fase da vida, uma obra de arte que precisa ser admirada, protegida e respeitada como legítima e importante. 
Pensar nas crianças como artistas natos é dar-lhes o aval para que criem e deixem toda sua criatividade e expressividade explicar o mundo que estão descobrindo. Que possam, sem padronizações, nos mostrar as possibilidades de entender o mundo.
No sentido contrário, na Educação formal, muitas vezes, encontramos um outro caminho sendo trilhado. Não por falta de vontade ou desejo de uniformizar, as vezes até mesmo por falta de profissionais habilitados para a tarefa. No currículo, Artes é presente quando é viável. Quando não ocorre assim, é um momento de propor atividades diferentes das propostas pelas outras áreas do conhecimento. 
Esta perspectiva, confesso, penso agora com as provocações da disciplina de Artes Visuais e Educação. E repensando, como as propostas são feitas para meus filhos, para meus alunos, para nós mesmas como alunas neste momento ainda. E pensando em como nosso desenvolvimento poderia ter oferecido mais momentos de “arte”. Sabiamente, nossa professora de Artes, Susana Rangel, nos alerta:
Em um contexto mais específico da educação formal, seja da Educação Infantil ao ensino universitário, na maioria das vezes, o ensino de arte e também outras áreas do conhecimento, ao invés de promover ações pedagógicas que levem crianças e adultos ao universo da criação e estruturação da linguagem visual, acaba tolhendo os modos singulares dos alunos entenderem e expressarem suas leituras e relações com o mundo. 

Não se trata, portanto de uma questão ligada somente ao ensino de Artes. Neste momento o enfoque é este, mas a longo prazo e, talvez em tempo de salvarmos nós mesmo de um colapso criativo, talvez essa reflexão seja a chance de mudarmos muitas perspectivas.
Fui por diversos pensamentos neste texto, eu sei. Talvez estivesse pensando artisticamente, ou pensando sobre a liberdade das crianças poderem fazer suas artes. E quando pensarmos nas crianças arteiras, que possamos também pensar nas suas artes. Pensarmos nas crianças que são, na verdade, artistas. E, principalmente, não esqueçamos que podemos também ser adultos arteiros artistas.

DA CUNHA, Susana Rangel Vieira. Como vai a Arte na Educação Infantil? Educação Presente. CEAP, Salvador: v. 56, p. 4-12, 2007.



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