terça-feira, 23 de maio de 2017

"Para não morrermos de realidade"


Nesta frase, vista no cartaz de uma exposição de quadros, lembrei do vídeo de Zygmunt Bauman sobre o "Mundo Líquido". Ali, expressa nossa realidade de século XXI de uma maneira em que enxergamos as coisas com uma fluidez que nos parece que escorrem pelas mãos. O sociólogo compara seu ponto de vista do século XX com o atual e diz que em sua juventude cheia de expectativas e esperança, vê agora um estado de "interregno" (seu termo) onde não somos uma coisa nem outra. Neste estado aprendemos a lidar com os desafios da realidade de um outro modo, os modos que conhecíamos não funcionam mais. As políticas,os relacionamentos e as organizações não funcionam mais como antes. Estamos focados em reagir às crises, mas as crises atuais também estão mudando, também são "líquidas" ou volúveis, rapidamente são substituídas por outras e apagadas da memória em um estado de desordem e incapacidade de lidar com os novos desafios.

Temos muita informação e pouca sabedoria. Nessa frenética busca por soluções, não temos tempo de elaborar conhecimentos de fragmentos vindos de todas as partes. Somos mosaicos de informações e não nos aprofundamos nas questões. Sem sabedoria, não saberemos como prosseguir!
Na sociedade pós industrial do consumismo, deixamos para trás a sociedade industrial e agora priorizamos o imediatismo, o individualismo e a felicidade através do consumo. 
E no momento mais chocante de sua fala cita um ditado chinês: "Se planeja por um ano, semeie milho. Se planeja para dez anos, plante uma árvore. Se planeja para cem anos, eduque pessoas". Assim fala sobre o momento atual da Educação tradicional e de como estamos nos esquecendo disso. Educação e imediatismo são contraditórios e o segundo impede o desenvolvimento de uma educação de qualidade. E vai além disso, fala sobre nossa incapacidade atual de ter um pensamento linear,que construa o conhecimento baseado em informações sólidas e agrupadas. O que temos hoje  é um aglomerado de peças desencaixadas e separadas, sem lógica. 
Bauman morreu em 9 de janeiro de 2017 e tinha preocupação de quantas vítimas teríamos até que encontrássemos uma solução para essa nossa realidade. Até que solucionemos nossa crise e percebamos que nossa História pode ser contada de outra maneira, com prioridades que nos façam evoluir como Humanidade e como Sociedade.
Nesta perspectiva, "não morrer de realidade" seria minha esperança atual. Concordando com alguns pontos do sociólogo, discordando em outros, tenho esperança e tento solidificar essa liquidez. Tempos difíceis para tentar "construir", partindo do pressuposto de que construções são sólidas. Mas também tempos favoráveis à reflexão, onde a mudança constante e rápida permite olhar a História recente e acertar os rumos para decisões do futuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário