sexta-feira, 29 de março de 2019

29/03 PIPES OF PEACE

Hoje reinicio este blog com uma motivação especial: iniciar a última etapa da Graduação em Pedagogia a Distância. Paralelamente a estas últimas postagens, que visam fazer uma revisitação, um retrospecto dos aprendizados e aquisição de novos, o Trabalho de Conclusão de Curso precisa ser realizado. De fato, os meses seguintes só me mostram que a carga de trabalho será maior que a usual, assim como a ansiedade e as angústias costumeiras desta etapa.
Hoje, deixar os filhos na escola foi um pouco amedrontador. Hoje, ir trabalhar também foi um pouco mais difícil. Depois do atentado na escola em Suzano, uma ameaça de um ato semelhante nas escolas de Porto Alegre deixou a cidade toda em alerta. Quando o atentado aconteceu em Suzano, a comoção entre alunos e professores foi notória, nos deixando com o sentimento de que "poderia ter sido em qualquer escola". Quando pensamos assim, nos incluímos nas prováveis vítimas, nos colocamos no alvo e passamos a pensar em estratégias de sobrevivência e resgate para uma situação inesperada como esta.
O lugar/ tempo/ estado Escola deixa de ser o local de de vida e sonhos e passa a ser medo. Resistência é uma palavra que não cabe, pois não temos forças para resistir quando a ameaça está conosco, a espreita, esperando o momento oportuno. 
No cenário atual do Brasil, com a violência, intolerância e estímulo ao armamento em evidência, nosso trabalho de luta dentro das escolas passa a ser, além de oferecer condições de aprendizado, convivência saudável e segura, estímulo ao pensar e a autonomia, ainda precisa dar conta de uma luta muito desleal: com os sentimentos que nossos jovens carregam.
Esse embate torna-se desleal pois é, muitas vezes, inacessível, intocável, ou propositalmente incubado pois qualquer pensamento contrario ao senso comum poderia ser rejeitado. Muitas vezes escrevi sobre a autoestima, autoimagem e questões da agressividade na escola. E cada vez mais me convenço de que precisamos investir na saúde emocional destas crianças e jovens. Cada dia mais reclusos em seus próprios pensamentos, muitas vezes equivocados, sem trocas ou perspectivas de diálogo e pensamento crítico da realidade e de suas próprias ideias.Cada dia mais propensos a acreditar na inviabilidade de mudanças, ou na irrelevância da própria vida. Cada dia mais informados sobre superficialidades, sem interagir com a premissa básica do diálogo: o outro. 
Uma juventude que não sabe o valor e o poder que tem. Possuem informações e meios muito mais disponíveis para edificar pensamento realmente transformadores. Ao mesmo tempo, se deixam levar por suas angustias e dores internas, as quais aprisionam, escondem e alimentam. 
É como morrer de inanição em um banquete. Muitos morrem no sentido biológico, outros seguem em vida, mas já mortos.  
Hoje foi difícil ir para a escola. Hoje foi difícil não pensar em Suzano. Lá, não foram 11 mortos. Dois já estavam mortos.
"All round the world
Little children being born to the world
Got to give them all we can till the war is won
Then will the work be done
Help them to learn (help them to learn)
Songs of joy instead of burn, baby, burn, (burn, baby burn)
Let us show them how to play the pipes of peace
Play the pipes of peace"

(Pipes of Peace, Paul McCartney)