Nem só de aulas ou didática que sobrevivemos, professores! Sobrevivemos à nossa rotina, que às vezes é muito tensa, também com aproximação, com troca, com escuta. E tentamos, muitas vezes nos "aproximar" dos alunos pelo nosso conhecimento, por nossas habilidades, com muita ânsia de "ensinar". E na verdade podemos nos aproximar com uma conversa simples, um conto de história, uma demonstração de nossa realidade.
Sei que os alunos nos idealizam, nos colocam em uma posição distante, como se nossas vidas fossem muito distantes da deles. Sei que imaginam que não passamos por situações que passam, ou por conflitos, ou por situações engraçadas. A prova viva disso é quando encontramos um aluno fora da escola: a reação tradicional é de espanto, como se o aluno pensasse "Nossa, a professora gosta de passear no parque!". Enfim, hoje vi olhos e ouvidos atentos quando eu contava um "causo" ocorrido hoje. Percebi que a turma não estava muito receptiva para a aula e nossas tradicionais discussões sobre o conteúdo e iniciei o desabafo.
Fui surpreendida por um senhor que me empurrou no supermercado quando a caixa ao lado da que esperávamos a fila anunciou que o próximo poderia passar. A próxima era a senhora que estava em minha frente. Ele, bruscamente se dirigiu me empurrando e retrucando quando eu me manifestei contra aquele ato. Ficamos todos abismados com a incoerência do senhor e meu ânimo se alterou. Por isso contei aos alunos, contando com a opinião deles sobre o fato e discussão das condutas corretas.
Muitos disseram que tive uma postura "muito educada", que deveria ter "mandado o cidadão para aquele lugar", que deveria ter chamado o gerente, que deveria ter tirado as compras dele do caixa. Foi divertido ouvir as contribuições.
Disso tudo tive uma aula subsequente como há muito tempo não tinha, com participação, com atenção, com empatia, com muitas trocas. Disso tudo, também, aprendi que a percepção dos alunos sobre os professores é idealizada, não imaginam seus professores nestas situações cotidianas, muito menos de conflito. Ficaram espantados.
E, finalmente, disso tudo aprendi que em situações em que haja erro de alguém, dificilmente as pessoas se manifestam a favor dos menos favorecidos, mesmo que o erro seja notório e a repreensão seja possível. E isso também foi pauta do aprendizado com os alunos, isso também foi discutido. Perceberam que estamos diante de muitas coisas erradas e "ninguém faz nada".
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