O aprendizado da semana foi o mais árduo dos últimos tempos. Vínhamos aprendendo pouco a pouco, mas quando a ação se concretiza vemos que nossa força se esvaiu, de fato. Vimos nossa democracia se desfazer e nosso senso de justiça foi colocado à prova, nos fazendo desacreditar em um sistema que julgue seriamente os crimes e que julgue também os não-crimes. Toda essa atmosfera de ódio e intolerância que enfrentamos nos coloca à disposição de manipuladores de ideias, à mercê de opiniões formadas massivamente e com interesses obscuros e que tolhem, sem dúvida, nossos direitos como nação, como cidadãos, como humanos.
Em análise neste momento estudamos a história da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Nesta retrospectiva vemos que os estudantes que necessitam/necessitaram desta modalidade são vistos como estudantes que não despertam a seriedade de investimentos que a Educação preconiza. Ofertada inicialmente aos trabalhadores para formação de mão de obra qualificada para o trabalho industrial no Brasil, a EJA se configurou como
política pública educacional nos anos 40, em uma época que o país
precisava pensar urgentemente em propostas alfabetizadoras para a
população adulta.
Em 1958, no governo de Juscelino
Kubitscheck desenvolveu-se o entendimento de que a
educação ofertada a esse alunado lhe possibilitaria melhores condições de vida. Nesta mesma época ganhou visibilidade Paulo Freire, propondo um processo educativo
que fosse construído – e não dado –
juntamente com os estudantes. Tal processo não contemplaria a escolarização
como fim, e sim como início, uma vez que a educação seria um instrumento de
mobilização social, possibilitando o desenvolvimento da consciência crítica dos
aprendizes.
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Crédito: Francisco Proner Ramos |
Em 1964 a Ditadura
brasileira representou um volver na história da EJA, perseguindo duramente o educador Paulo Freire pelo
governo ditatorial, acusado de disseminar ideias contrárias e anárquicas ao
regime político da época. Ideias como levar o educando a uma conscientização
sobre a realidade, estimular o seu pensamento crítico e fazê-lo refletir sobre
o seu lugar numa sociedade marcada pela divisão de classes sociais eram, de
fato, ameaçadoras ao plano de governo dos militares. Extintos estavam, então, os programas de educação de adultos de cunho
popular.
Entre 1965 e 1967, a taxa de analfabetismo entre a população adulta
brasileira era preocupante, estimava-se que aproximadamente 40% dos brasileiros
não sabiam, sequer, assinar o próprio nome. Estava estabelecido um cenário bastante favorável para a instalação da desejada hegemonia da política vigente. Nesta ideologia, a alfabetização serviria somente para inserir as pessoas no mercado de trabalho, para que
contribuíssem para movimentar a economia do país. A fim de erradicar o problema
do analfabetismo, o governo, então, elaborou o seu próprio projeto, o Movimento
Brasileiro de Alfabetização – O MOBRAL. Idealizado desde 1967, ainda no governo
do general Costa e Silva, sua consolidação se deu somente em 1969, no governo
Médici. Após inúmeros decretos, ficou decidido que a presidência do MOBRAL
seria nomeada pelo então Presidente da República, instrumentalizar o aluno a decodificar letras e números, sem se
comprometer com o desenvolvimento político-social do educando.O cidadão
recém-alfabetizado, geralmente oriundo de classes populares, continuou servindo
como mão de obra pouco qualificada para classes mais abastadas da sociedade.
Com a diferença de agora passar a participar do mercado de trabalho formal.
Muitas outras fases se sucederam na história da EJA. Hoje como um plano que estabelece como prioridade a erradicação do analfabetismo,
estipula como meta aumentar o nível de escolaridade das pessoas adultas,
sobretudo na faixa de 18 a 24 anos e destaca a necessidade de acrescentar a
qualificação profissional à formação escolar do aluno jovem e adulto.
Nesta breve visita ao passado, vejo o presente. Com olhos atentos e tristes, pessimistas também. Sob a mira de um cenário político que não incentiva os cidadãos a refletirem sobre suas práticas, que tende a fortalecer um mercado mecanicista e que desvaloriza o saber, o senso crítico e a mobilização social, vivemos quase amedrontados. Sim, infelizmente, acuados.
Os acontecimentos políticos refletem diretamente nos programas sociais do país, as situações se refletem nas esferas mais frágeis, o povo que mais necessita sofre com mais penalidade as mudanças governamentais que não incentivam o desenvolvimento social, muito menos seu desenvolvimento como cidadãos.
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