Se por um lado o
nosso sistema educacional e social (com todo nosso contexto
sócio-econômico-político) tende a valorizar a educação e os benefícios que traz
para uma sociedade, vemos de outro que os modos de produção tendem a perpetuar
a infeliz desigualdade que embasa essas relações. Indiscutivelmente tivemos
avanços, sim. Indiscutivelmente mantemos (socialmente) ciclos que tem suas
origens desde nosso entendimento como nação.
Não estamos
somente sob o efeito da desigualdade educacional em termos de “analfabetos x
alfabetizados”. Estamos em uma desigualdade que transcende esta parte (sob este
aspecto) meramente funcional. Estamos em uma desigualdade de compreensão geral
sobre as questões do mundo, nosso papel diante da sociedade (nosso papel
individual e coletivo). Estamos tão carentes de construções sólidas e críticas
sobre os desdobramentos de nossas ações políticas e sociais que beiramos um
colapso semelhante a uma manada cega que se direciona para o abate.
Se por um lado
precisamos combater as ideias opressivas e manipuladoras, do outro precisamos
construir possibilidades pedagógicas que aproximem nossa prática, cada vez
mais, de aspectos empoderadores sobre nossos alunos e comunidade,
emancipatoriamente. Como citado
no texto, “o pedagógico deve tornar-se mais político e o político, mais
pedagógico” (GIROUX, 1990).
Estes conceitos
“emancipação” e “empoderamento” soam positivamente e negativamente em nossos
meios sociais. Há quem pense que estes conceitos se relacionam com a rebeldia,
com a desestruturação social de modo anárquico e até “comunista” (destaque-se
aqui o grande temor social que percebemos nestes conceitos).
Emancipar
e empoderar lembra e remete a “permitir pensar, analisar e agir”. Assim
entendemos porque estes conceitos despertam tantas controversas opiniões na
sociedade. Positivamente, temos nestes conceitos um embasamento de sobre o que
mais precisamos em nossa educação, principalmente nas camadas mais populares. É
indissociável, nestes conceitos também, a democracia. Uma democracia em suas
raízes, radical neste sentido (não radical no sentido que a sociedade dominante
tanto “teme”). Na verdade, as classes dominantes sempre temem a democracia em todos
seus sentidos, imaginamos. Exercer poder requer um dominante e um dominado, e
isso não está de acordo com o conceito democrático que pensamos aqui neste
texto. A emancipação social e a alfabetização emancipatória prescindem da
possibilidade de direitos igualitários e justiça social, o que vemos que é uma
ameaça aos sistemas que se apresentam. Nossa luta cotidiana é vagarosa e
constante, é enraizada e fundamentada em uma utópica sociedade com menos
desigualdades, com mais possibilidades, com menos dominação e mais participação.
Queremos uma
nação verdadeiramente democrática, crítica e emancipada. No entanto, vemos que
a contramão do progresso como sociedade se instala todos os dias, pouco a
pouco, podando nossos pequenos frutos conquistados com tanto esforço. O
retrocesso que estamos passando tende a ter efeitos muito negativos, danos que
demorarão um longo tempo para serem sanados.
REFERÊNCIAS
GIROUX, Henry. Alfabetização
e a pedagogia do empowerment político. FREIRE,
Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 1-27, 1990.