A primeira vez, nunca esqueceremos! E pela primeira vez apliquei uma prova do Método Clínico Piagetiano.
Prova da Conservação da Superfície:
O método apresenta a capacidade de testar e observar a construção e desconstrução...nesta desacomodação vamos questionando e observando os meios que a criança faz para encontrar as respostas aos questionamentos. Por provas ou não, fazemos isso em nossa prática escolar...talvez até sem perceber ou sem ter este objetivo. Mas na busca por encontrar formas de entendimento fazemos meios alternativos de pensamento, questionamos, mudamos situações, fazemos suposições, tentamos abstrações e, quando possível, demonstramos concretamente as situações.
Prova da Conservação da Superfície:
R. (Menino, 6 anos e 4 meses, aluno do Infantil V)
Foram apresentados dois retângulos verdes de EVA, de igual tamanho. Foi explicado que tratava-se de terrenos com grama. Foram colocadas casinhas idênticas em cada terreno, uma no centro do terreno e outra em um canto do outro terreno (a prova consiste em distribuir as casas nos dois terrenos de maneira espalhada num, e juntas noutro). R, nesta grama eu coloquei uma casa (no centro do terreno), sobrou espaço para as crianças brincarem? Sim. No outro terreno eu coloquei uma casa também (no canto do terreno), sobrou espaço para as crianças brincarem também? Sim. Em qual lugar tem mais espaço para as crianças brincarem? Neste aqui (indicando o terreno com casa no canto). Vamos colocar outra casa aqui (no terreno de casas espalhadas) e outra aqui (casas juntas no terreno). Queria que tu me mostrasse onde tem mais espaço para as crianças brincarem...Neste aqui (casas juntas). Coloco mais casas em cada terreno sucessivamente. Esta grama tem tudo isso de casas, quantas? Cinco. E aqui, tudo isso de casas também, quantas? Cinco. (casas espalhadas em um terreno e casas juntas no outro terreno). Onde tem mais espaço para as crianças brincarem, nesta? Sim (indicou o terreno de casas juntas).
Vamos fazer uma transformação agora. Quero saber se eu colocar esta casinha aqui (do terreno de casas espalhadas, todas juntas como no terreno ao lado porém enfileiradas de maneira diferente), onde tem espaço para as crianças brincarem? Aqui (indicando o terreno que demonstrava anteriormente). E se eu fizer assim?(coloco as casas agrupadas em 3 de um lado e 2 do outro lado do terreno, com área central livre). Ele segue demonstrando o terreno indicado anteriormente. E se continuarmos fazendo a transformação, R? Essa se muda para cá, esta para cá (dispondo as casas agrupadas desde o início de forma espalhada como foi no outro terreno, inicialmente)...qual terreno terá mais espaço para as crianças brincarem? Este (indicou o terreno com duas casas de um lado e três do outro lado, com area central livre).
Realizei a prova com o menino de 6 anos, um menino de 8 anos, um menino de 11 anos e duas meninas de 11 anos. Somente as meninas de 11 anos perceberam a conservação da superfície, independemtemente da distribuição das casinhas sobre o gramado. Usaram os conhecimentos de que as casas e os terrenos tinham a mesma área, portanto não haveria um terreno com maior ou menor area de brincadeiras. As outras provas foram evidentes na não conservação da área, indicando que a distribuição das casinhas oferece diferentes percepções de espaço para as crianças. Responderam que as casas aglomeradas em uma porção do terreno resultaria em maior area de brincadeiras, enquanto que as casas distribuídas ofertariam menor área. A conservação refere-se à capacidade de perceber que apesar das variações de forma ou arranjo espacial, uma quantidade ou valor não varia se dele não se retira ou adiciona algo. Na criança surge entre os 7 e os 12 anos durante o estágio da operações concretas.
Foi uma experiência bastante interessante, onde a observação ativa nos demonstra que os estádios do desenvolvimento são etapas presentes no nosso aparelho cognitivo, precisam apenas de seu tempo adequado e dos gatilhos para despertar estes mecanismos.
REFERÊNCIA:
MARQUES, Tania B. I. Método clínico piagetiano: Exemplo de transcrição. Porto Alegre: 2015 (mimeo).
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