quarta-feira, 29 de novembro de 2017

-PRECONCEITO! "PRESENTE!"

E não há um dia sequer que a sala de aula se mostre um ambiente sem preconceito. Todos os dias surge uma situação, um conflito, uma intervenção necessária e urgente. Nesta problemática constante, aprendemos e ensinamos que as diferenças existem, são necessárias e enriquecem a vida. Mesmo assim, o preconceito é presente, incomoda, desacomoda.

Uma das atividades que realizamos neste semestre na disciplina de Seminário Integrador abordava esta temática: situações de preconceito. Relatamos as situações que vivenciamos e analisamos casos de outras colegas. 


Image result for PRECONCEITO DEFICIENTESTanto na situação que relatei como nas situações das colegas que analisei, as questões que envolviam preconceito referenciavam a questão da deficiência física como fato desencadeador da situação-problema. Nas três situações também ficam evidentes questões sobre a necessidade de uma adaptação prévia dos ambientes para receber estas pessoas, não somente nas condições físicas, mas na informação e preparação das pessoas para que haja uma real inclusão, sem diminuição ou mascaramento da situação, mas com entendimento e clareza para que sejam conhecidas as aptidões e limitações das pessoas incluídas. 
As barreiras da inclusão são invisíveis, mas impedem que as pessoas se aproximem, se aconcheguem e encontrem no outro uma pessoa que também tem muito a oferecer, não somente a receber. Observamos que nos cercamos contra o "diferente" mas também temos nossos olhares mirando o "diferente", buscando pontos de convergência, encontrando pontos de sustentação onde possamos iniciar a construção. Assim rompemos as barreiras, quando nos aproximamos e construímos, e deixamos construir. 
Nas três situações analisadas houve carência de informações, de preparo, de "marretas" para derrubar as barreiras. Nas três situações, com maior ou menor sucesso, as histórias foram modificadas e ninguém permaneceu como era antes.
Com a felicidade ou tristeza dos casos relatados, tanto na inclusão em um ambiente de trabalho ou no ambiente escolar, as deficiências não podem representar situações desconfortáveis para as pessoas. Estamos falando de pessoas, e pessoas precisam de pessoas para se desenvolver. Por isso, em nenhuma situação a exclusão é admissível.


O DESAFIO DAS DIFERENÇAS


Fico bastante satisfeita e otimista ao escutar que a escola tenha um papel crucial no desenvolvimento de alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Meu questionamento e preocupação surgem quando penso nestes professores com uma sala de aula com muitas especificidades e diversidades e esta criança necessitando de um olhar diferenciado. Estabelecer vinculo com esta criança e conseguir desenvolver uma comunicação significativa reflete um real desafio. Penso na professora alfabetizadora, por exemplo, diante desta criança e tentando desvendar meios de comunicação e sistematização do conhecimento. "Os professores conseguem identificar estas necessidades especiais no caso de uma criança sem laudo", me questiono. 
A aprendizagem e a escola favorecem o desenvolvimento dessas crianças, mas isso depende de um processo de inclusão e desenvolvimento que ampliem os horizontes da criança e permitam que use ferramentas novas de comunicação. O professor que trabalha com crianças com TGD precisa ter acesso as metodologias que ampliem as possibilidades de comunicação com estas crianças. E estas crianças precisam de um olhar especifico e não comparativo, respeitando seus limites e suas aceitações aos incentivos a comunicação. A escola deve favorecer a aprendizagem e esta aprendizagem "escolar" abre portas para outras aprendizagens. A criança mostra seus caminhos de aprendizagem e o educador precisa ter um olhar observador mediador para a relação com a criança. O sucesso desta relação depende, também, da segurança do educador em atuar de acordo com suas capacitação profissional, trazendo a teoria e a pratica em bastante consonância para obter sucesso neste processo.
Em alunos com altas habilidades, percebo que encontramos no diagnostico  e no medicamento um alento ao ter "menos um" que "atrapalha". Seu rendimento muda bastante, em termos comportamentais e cognitivos. Mas seriamos muito ingênuas de pensar que este comportamento é satisfatório ou surte resultados nos alunos de altas habilidades, por exemplo. Aí nossa observação cotidiana das nuances de comportamento podem contribuir significativamente para o tratamento ou acompanhamento do aluno. Reconhecer que a medicação pode contribuir para a auto organização do aluno, mas ao mesmo tempo permitir que tenha suas habilidades livres para se expressarem, caracterizando sua personalidade e seu modo de atuar no mundo. Me preocupa o limite em que a utilização do medicamento anule sua personalidade, o torne mecanicamente "hábil" ao aprendizado e não mais signifique um desafio para os educadores em sala de aula. 
Certamente convivemos com nossos dois lados no cotidiano da sala de aula: o lado que "estimula seus alunos a procurarem novas formas de investigar e desenvolver suas potencialidades e o que recrimina o aluno que pergunta e que confunde o jeito inquieto do aluno altamente habilidoso com hiperatividade e dá graças a Deus se ele tomar seu medicamento e ficar quietinho, sentadinho em sua carteira".
Um dia ou outro seremos o tipo de professoras que não desejamos; em alguns dias nos sentiremos fracassadas diante da nossa incapacidade de administrar os conflitos que nos chegam na sala de aula e os desdobramentos que poderíamos ter dado. Em momentos de força ou fraqueza, vivemos nesta profissão que nos exige equilíbrio emocional e sensatez psicológica para trabalhar. Muitas vezes o dia já foi salvo pelo aluno questionador, noutros, o mesmo o arruinou. E não devemos nos sentir fracassadas por isso. Somos humanas também e sujeitas a essas flutuações. 


terça-feira, 21 de novembro de 2017

PROVA DO MÉTODO CLÍNICO PIAGETIANO

A primeira vez, nunca esqueceremos! E pela primeira vez apliquei uma prova do Método Clínico Piagetiano.
O método apresenta a capacidade de testar e observar a construção e desconstrução...nesta desacomodação vamos questionando e observando os meios que a criança faz para encontrar as respostas aos questionamentos. Por provas ou não, fazemos isso em nossa prática escolar...talvez até sem  perceber ou sem ter este objetivo. Mas na busca por encontrar formas de entendimento fazemos meios alternativos de pensamento, questionamos, mudamos situações, fazemos suposições, tentamos abstrações e, quando possível, demonstramos concretamente as situações.


Prova da Conservação da Superfície:
R. (Menino, 6 anos e 4 meses, aluno do Infantil V)
Foram apresentados dois retângulos verdes de EVA, de igual tamanho. Foi explicado que tratava-se de terrenos com grama. Foram colocadas casinhas idênticas em cada terreno, uma no centro do terreno e outra em um canto do outro terreno (a prova consiste em distribuir as casas nos dois terrenos de maneira espalhada num, e juntas noutro). R, nesta grama eu coloquei uma casa (no centro do terreno), sobrou espaço para as crianças brincarem? Sim. No outro terreno eu coloquei uma casa também (no canto do terreno), sobrou espaço para as crianças brincarem também? Sim. Em qual lugar tem mais espaço para as crianças brincarem? Neste aqui (indicando o terreno com casa no canto). Vamos colocar outra casa aqui (no terreno de casas espalhadas) e outra aqui (casas juntas no terreno). Queria que tu me mostrasse onde tem mais espaço para as crianças brincarem...Neste aqui (casas juntas). Coloco mais casas em cada terreno sucessivamente. Esta grama tem tudo isso de casas, quantas? Cinco. E aqui, tudo isso de casas também, quantas? Cinco. (casas espalhadas em um terreno e casas juntas no outro terreno). Onde tem mais espaço para as crianças brincarem, nesta? Sim (indicou o terreno de casas juntas).
Vamos fazer uma transformação agora. Quero saber se eu colocar esta casinha aqui (do terreno de casas espalhadas, todas juntas como no terreno ao lado porém enfileiradas de maneira diferente), onde tem espaço para as crianças brincarem? Aqui (indicando o terreno que demonstrava anteriormente). E se eu fizer assim?(coloco as casas agrupadas em 3 de um lado e 2 do outro lado do terreno, com área central livre). Ele segue demonstrando o terreno indicado anteriormente. E se continuarmos fazendo a transformação, R? Essa se muda para cá, esta para cá (dispondo as casas agrupadas desde o início de forma espalhada como foi no outro terreno, inicialmente)...qual terreno terá mais espaço para as crianças brincarem? Este (indicou o terreno com duas casas de um lado e três do outro lado, com area central livre).
Realizei a prova com o menino de 6 anos, um menino de 8 anos, um menino de 11 anos e duas meninas de 11 anos. Somente as meninas de 11 anos perceberam a conservação da superfície, independemtemente da distribuição das casinhas sobre o gramado. Usaram os conhecimentos de que as casas e os terrenos tinham a mesma área, portanto não haveria um terreno com maior ou menor area de brincadeiras. As outras provas foram evidentes na não conservação da área, indicando que a distribuição das casinhas oferece diferentes percepções de espaço para as crianças. Responderam que as casas aglomeradas em uma porção do terreno resultaria em maior area de brincadeiras, enquanto que as casas distribuídas ofertariam menor área. A conservação refere-se à capacidade de perceber que apesar das variações de forma ou arranjo espacial, uma quantidade ou valor não varia se dele não se retira ou adiciona algo. Na criança surge entre os 7 e os 12 anos durante o estágio da operações concretas.
Foi uma experiência bastante interessante, onde a observação ativa nos demonstra que os estádios do desenvolvimento são etapas presentes no nosso aparelho cognitivo, precisam apenas de seu tempo adequado e dos gatilhos para despertar estes mecanismos.


REFERÊNCIA:
MARQUES, Tania B. I. Método clínico piagetiano: Exemplo de transcrição. Porto Alegre: 2015 (mimeo).

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

UM FENÔMENO!!!

Então, aos 34 dias de greve dos Municipários de Porto Alegre e diante de outras tantas greves no país; observando nossa caminhada e nossas construções; observando nossa sociedade e os encaminhamentos que engendraram os últimos tempos, proponho uma breve análise sobre o vídeo "O Milagre na Finlândia".
Certamente encontraremos muitas informações sobre pontos negativos da vida na Finlândia. Certamente haverá contrapontos sobre a utopia de um país com muitos aspectos de desenvolvimento igualitário. No entanto, nesta breve análise, reforço somente o aspecto da EDUCAÇÃO, o pilar principal de uma sociedade justa e desenvolvida.
Um caminho traçado sobre as escolas públicas, onde os alunos não são distintos por suas classes sociais. A inclusão social que garante que a condição econômica dos pais não interfere na qualidade de educação de uma criança.
Em seguida, uma política de valorização dos professores onde os professores têm um alto grau de respeito na sociedade, seguido de salários valorizados e formação de professores. E
 para concluir, um "pensar fora da caixa", reduzindo a carga horária e a quantidade de provas. A prioridade é estimular o raciocínio independente.
Um sistema igualitário que nos mostra um dos mais celebrados sistemas de educação do mundo. Os finlandeses estruturam este sucesso como resultado, não somente de políticas educacionais, mas também de políticas sociais: o bem estar social financiado pelos impostos é fundamental para garantir saúde, moradia e educação para os cidadãos.
E em contrapartida estamos aqui lutando diariamente contra a desvalorização dos professores, lutamos para que a formação de professores seja de qualidade, nos deparamos com escolas sem a mínima infraestrutura para acolher os alunos, lidamos com alunos sem assistência, sem apoio familiar, sem nada!
Ano após ano vemos as diferenças sociais aumentando, e um sistema que busque o contrário deste status é sumariamente alvejado pela sociedade que ainda vê o poder na economia, e não nas interações sociais.
Cada dia penso que este país tem tanto potencial para crescer e tantos obstáculos para ultrapassar! E  que um dos principais obstáculos é a própria sociedade.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

QUANDO NÃO SEI O QUE PENSAR

Recebi esta resenha de um livro infantil distribuído nas escolas de São Paulo. A autora, Silvana Rando foi premiada com a obra. Na resenha que podemos assistir no vídeo, Ana Paula Xongani critica duramente a obra e propõe que sejam tomadas ações a respeito do livro alertando que trata-se de uma obra preconceituosa, apelando que se dialogue com as Direções sobre as consequências da leitura do livro sobre a autoestima das crianças.
Fiz um exercício de pensamento refletindo sobre a leitura e, principalmente, sobre a problematização desta leitura. De fato, esta leitura se trabalhada simplesmente pela história, levantará questões de não aceitação nas crianças que se identifiquem com a personagem.
Não podemos deixar de lembrar que a aceitação das nossas características físicas está intimamente atrelada ao diálogo construído com nossos semelhantes, nossos professores, nossos amigos, as pessoas que nos cercam e reforçam que nossa aparência é secundária diante da nossa existência nestes círculos. Nesta linha de pensamento, construo que a leitura de Peppa seja muito propícia para este diálogo. Quando propomos uma leitura orientada e com propósitos de reflexões após a leitura, qualquer obra pode  tornar-se uma potente ferramenta contra o preconceito e discriminação. A autoestima seria um sentimento muito trabalhado nesta problematização, derrubando os conceitos de "cabelo ruim" que possam surgir na identificação do cabelo de Peppa.
Me preocupo com as questões que este livro esteja ressaltando quando não trabalhado de forma orientada. Me preocupo quando esta leitura seja ofertada sem reflexão, sem discussão, sem questionamento.