quinta-feira, 27 de abril de 2017

GREVE GERAL




Hoje quando fui trabalhar levei comigo uma colega que está às portas de sua aposentadoria. Todas quartas-feiras vamos juntas para a escola. Hoje ela me disse: "a última quarta-feira".
Dá um vazio de saber a falta que aquela profissional fará na escola, quantos trabalhos ótimos realizou, quantos alunos lhe são gratos e saudosos de suas aulas. Mas é chegado seu tempo de viver uma nova fase, um tempo para ela realizar, um tempo para ela aproveitar.

Amanha, 28 de abril de 2017 estaremos parados. Ou ao menos esperamos que todos parem. E, ao parar, estaremos nos movendo para um movimento que precisa ser feito, independentemente de nossas posições políticas, partidárias ou ideológicas. O motivo para parar amanhã transcende essas diferenças. Amanhã é dia de parar por nossos direitos como trabalhadores. Nossos direitos que foram duramente conquistados, lutados, gritados...Nossos direitos que estão agora sob forte ameaça de serem desmantelados por essa quadrilha (desculpem a força da palavra) que é o atual quadro de governantes do nosso país. Ardilosamente estão organizados para sucatear e explorar cada vez mais o trabalho no Brasil. Nossa qualidade de vida, nossa qualidade de trabalho, a valorização das atividades e nosso direito básico à aposentadoria em uma idade viável estão fortemente ameaçados.
Precisamos parar para poder continuar.

sábado, 15 de abril de 2017

Com os pés na sala de aula

É muito cansativo e desanimador quando temos nossos pés, corações e mentes em sala de aula e temos de lidar com opiniões de quem é alheio a toda essa nossa rotina.
Estar em sala de aula é estar na frente de batalha, lidando diretamente com as dificuldades da população que atendemos.
Vivemos, atualmente em Porto Alegre, uma situação que põe à prova nossa capacidade de resistência frente a ameaças e decretos que estabelecem alterações nas rotinas escolares. Essas alterações afetam diretamente um trabalho de construção de anos na rede municipal.
Ao mesmo tempo que resistimos, somos ameaçados com ataques constantes da nova administração. Temos a Comunidade ao nosso lado, mas temos uma forte propaganda que dissemina que nossa posição é egoísta e interessada em nosso próprio benefício.
Sabemos que este é apenas o princípio de um período muito dificultoso sob a administração de quem desvaloriza o público e defende o Estado mínimo. Que fala em democracia, mas tolhe nossa voz através de decretos e sindicâncias. Que não considera a história de uma rede construída com muitos estudos e experiências positivas e negativas, mas que sempre foi uma rede construída coletivamente, com diálogo e posicionamento dos professores: os que estão na linha de batalha.
Nossos pés nas salas de aula estarão lutando para que a sala de aula seja sempre um lugar de construção, que a escola seja um lugar de crescimento e que a sociedade seja um lugar democrático.

Aprendizagem Amorosa

Era um dia corriqueiro. E já não sei mais dizer se na Educação há dias "corriqueiros". Não há rotina, não há padrão. Todos os dias são novos desafios e surpresas que nos chegam. Notícias boas e ruins.
Assim, neste dia "corriqueiro", em sala de aula após realizar um exercício com a turma, um aluno começa a falar sobre sua família. Sentado à minha frente, me conta que conheceria naquele final de semana a nova namorada de seu pai. Esta, ele "não gostava", pois já havia namorado o pai e agora a própria se dizia "mudada". O aluno, apreensivo, comentou que se voltassem a morar juntos ele se mudaria para a casa da mãe onde já não convive há algum tempo.
Ouvindo a conversa, outro se aproximou e também relatou que sua vida não anda fácil. Trabalha em um mercadinho no turno inverso e ajuda os pais quando chega em casa. A "mãe" a qual se refere não é a mãe biológica. Ele é fruto de uma relação extraconjugal do pai, e sua mãe biológica o abandonou. A esposa legítima do pai o criou como filho. Ao contar esta estória, não demonstra tristeza e concorda comigo quando lhe disse "sua mãe é uma grande mulher, enfrentou uma situação difícil e te amou como se vc tivesse sido gerado por ela".
Um ouvindo a história do outro, não imaginavam que tinham histórias familiares cheias de vieses. Iniciaram as falas com um jeito tímido, mas queriam falar. Mas o tom inicial da fala era de "que droga essa minha família". Ouvi tudo com atenção e acolhida. "Viram, guris, como não tem família perfeita? Toda família tem um rolo, uma confusão", disse-lhes de um lugar de quem tem uma família um tanto quanto conturbada também.
Neste momento de escuta, um deles pronunciou: "como é bom falar as coisas, né sora?" Rimos juntos daquele momento e nos aproximamos. Era a primeira semana de aula e eu não os conhecia muito bem.
Relembrei este episódio quando li o artigo APRENDIZAGEM AMOROSA: TRANSFORMAÇÕES NA CONVIVÊNCIA DE ACEITAÇÃO DO OUTRO COMO LEGÍTIMO OUTRO. Nele, uma revisão de Maturana e Serres propõe: 
É necessário saber que não se sabe tudo e que a vida é uma eterna aprendizagem com seus companheiros de viagem, “arrancar alguma parte de si, para abrir espaço para o outro”. A confiança é a condição básica dessa possibilidade de transformação, como nos aponta Maturana. Necessitamos compor um domínio de ações onde essa confiança possa emergir.  Estar nu, sem pré-conceitos, na chegada, a outra margem nos convoca a pensar: o que me espera? Será que falaremos a mesma língua? Gostarão de mim? É num território novo que estou chegando, me aceitarão como seu legítimo, como hóspede ou como estrangeiro? Estarei nu o “suficiente para compor com minhas novas roupas”?  
Eu estava, naquele momento, em plena "travessia" com os alunos. Despida dos preconceitos e pronta para acolher o que me traziam. Nesta convivência, temos a construção da Aprendizagem amorosa, onde a aceitação do outro é premissa para que se estabeleça a relação.
Não foi um dia corriqueiro. Não será nunca mais. Já temos, ao menos naquela sala de aula, uma relação de confiança. Abrimos espaços para aprendermos juntos, muito além das aulas de Ciências. Sou grata por este momento.

REFERÊNCIA:
REAL, Luciane Magalhães Corte; PICETTI, Jaqueline Santos. APRENDIZAGEM AMOROSA: TRANSFORMAÇÕES NA CONVIVÊNCIA DE ACEITAÇÃO DO OUTRO COMO LEGÍTIMO OUTRO. Educação e Cidadania, v. 13, n. 13, 2014.

terça-feira, 11 de abril de 2017

FELIZ 2017!

Dia 27 de Março reiniciamos nossos trabalhos no PeAD. Inicia-se o Quinto eixo! E sem querer me repetir, mas sem muita alternativa para isso, faço aqui aquelas resoluções que fazemos sempre que um novo ciclo inicia! 

Que tenhamos saúde para enfrentar os tempos difíceis que vivemos, com reformas na Previdência, no Ensino Médio, com surpresas na política e no mundo que nos chocam a cada momento!



Que tenhamos resistência para lidar com o autoritarismo dos novos governantes que desrespeitam todo um processo democrático construído a duras penas neste país, e que agora, parece que foi uma brincadeirinha de criança na areia (basta pisar para desconstruir tudo!)
Que sejamos unidos como espécie contra a matança da nossa própria espécie, nas mortes cotidianas tão próximas de nós, nas mortes longínquas, nas mortes de mentes e almas que são tolhidas de seus direitos.
Que tenhamos cada vez menos tolerância contra abusos e violências, principalmente contra mulheres, meninas, humanos, e todas as espécies vivas.
E, finalmente, que possamos exercer nosso livre arbítrio de maneira saudável, sem invadir o livre arbítrio do próximo. Ou, como  em desuso, com RESPEITO
Que sejam prósperas e relevantes nossas reflexões, e que alcancem dimensões além das nossas mentes, que possam transformar nossas realidades e de nosso entorno!