Não é raro ouvirmos alguém mencionando "as crianças de hoje em dia não são como as de antigamente", ou então "no meu tempo não era assim". Quando as pessoas utilizam esses jargões se referem a diversos aspectos: respeito aos pais e professores, autonomia das crianças, atitudes inapropriadas que observamos nos dias atuais, mas também, referem-se ao poder de consumo das crianças. Este consumo que em outras épocas era menos agressivo e oferecia aos pequenos menos poder de decisão. Hoje, vemos famílias que, inclusive, têm a participação das crianças nas decisões de compra das famílias, nas opiniões sobre onde passarão as férias ou onde realizarão suas festas de aniversário. Uma verdadeira Revolução, se olharmos o comportamento passivo que tinham as crianças "de antigamente".
Uma parcela da Infância atual, com poder
econômico, atua na nova sociedade como sujeitos de alto poder de investimento e
compra. São alvos fáceis da nossa mídia que bombardeia os canais te TV a cabo
com produtos que podem/devem ser consumidos por elas. Essas crianças também
foram empoderadas em suas famílias como sujeitos de escolha e decisão, um papel
que há poucos anos não víamos nas tradicionais famílias.
Por outro lado, vemos
a Infância com baixo poder econômico, também atuante na nova sociedade como
produtos de uma geração com muitos desejos e poucas possibilidades. De um lado,
crianças com muito poder e muitas “necessidades”, do outro, muito desejo e
poucas chances de mudança de realidade.
Diante de tudo isso, a Educação tenta se tornar
Universal e abranger todas as camadas da sociedade, igualmente. Uma utopia,
pois jamais poderemos oferecer os mesmos recursos para crianças com bases estruturais
tão distintas. Algumas com contato desde tenra idade com toda sorte de
estímulos intelectuais e convivência social em sua sociedade e meio. Outras,
que somente saíram algumas vezes de sua comunidade e tiveram acesso restrito em
muitos espaços que lhes são de direito, assim como acesso à cultura, saúde,
saneamento, proteção. O modo de atuação diante dessas crianças jamais será
igual.
Precisamos trabalhar sobre a perspectiva de que a
sociedade atual, assim como a escola atual tem todas ações e objetos
integradores de conhecimento, juntamente com a diversidade e histórias de vida
dos educandos, todos transmissores da cultura escolar. Assim, toda mudança que
a Escola pós-Moderna precisa prescinde da mudança desta cultura escolar:
professores com cultura crítica vivenciando e recriando a cultura na escola,
“desenvolvendo de forma autônoma e crítica a futura comunidade social”. Precisamos
oportunizar a vivências dos diferentes, democratizar o acesso à Educação de
modo a considerar que todos tenham tido as mesmas oportunidades iniciais. Não
podemos admitir tantas discrepâncias em nossa sociedade pós moderma que, ainda,
busca igualdade, mas que escraviza e segrega explicitamente. Assim, poderemos
mudar também as relações que ainda nos escravizam e discriminam, em diversos
aspectos.
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