Ontem fui observadora da turma em que atuarei como estagiária. Fui muito bem recebida pela professora titular e pelas alunas presentes. A sensação da observação foi estranha, pois estava naquela sala de aula, de noite, que foi a mesma sala em que eu estava no último período da tarde daquele dia. E observando a sala ali, me dei conta que nem parecia estar no mesmo lugar.
Ingressei na sala e me acomodei logo atrás de uma aluna, que não pertencia "a turma, estava ali pela ausência da sua professora. Fiquei, por um tempo, olhando, pensando, escutando, imaginando as histórias que me trariam aquelas pessoas com tantas trajetórias de vida. Sei que os alunos das turmas regulares da tarde também têm suas histórias, mas os estudantes da EJA trazem consigo uma bagagem de vivências.
A professora iniciou a aula conversando sobre assuntos diversos com os alunos, em um clima de espontaneidade. As alunas sentaram-se bem espaçadas, sem modificar a organização das classes das turmas diurnas (fileiras com classes em duplas). As alunas conversavam entre si sobre o clima, sobre idas à igreja, passeios, etc. Mencionam com certa frequência "Graças a Deus, com a graça de Deus, recebi uma graça". Chamam a professora titular de "sora", " sorinha do meu coração".
A letra utilizada com a turma é script ou bastão. A turma não apresenta uma frequência constante, assim os projetos e trabalhos devem ser iniciados e finalizados no mesmo dia, pois há esta dificuldade na continuidade. As alunas presentes são bastante comunicativas e requisitantes à professora quando apresentam dúvidas. Dos cadernos observados, uma peculiaridade: as alunas não gostam de utilizar o verso das folhas do caderno que já foram escritas. Uma prática usual é o registro no caderno, onde investem grande esmero em realizar as tarefas e mantê-lo completo. Realizar atividades no caderno é uma forma de perceberem que "tiveram aula". E gostam muito desse registro.
De fato, eu não estava no mesmo lugar. Estava no lugar de observação, investigando. E a sala, em si, também não era o mesmo lugar, era um lugar de busca. Uma busca com muita sede e garra de aprender. Com suas dificuldades e histórias, os alunos que estão ali procuram mudança, crescimento e perspectiva de um mundo melhor. Uma sala de aula pode ser muitos lugares ao mesmo tempo.