Naquela noite fria a professora logo nos lembrou que poderíamos ter ouvido de outrem ou de nós mesmas a seguinte frase: "Uma palestra sobre o brincar? Mas já sabemos tudo sobre o brincar! Precisa uma palestra sobre isso?" Neste momento, mesmo negando em meus pensamentos que tenha pensado isso, confesso que durante o planejamento do dia e deslocamento para a aula eu pensei isso sim!
Já nesta abordagem a professora Tania Fortuna demonstrou toda sua experiência e conhecimento sobre o Brincar. Brincou, em diversos momentos, com nossos pensamentos, com nossas memórias e construções.
Nos mostrou que as brincadeiras são poderosos instrumentos de coesão social, até mesmo quando são brincadeiras de comunicação não-verbal. Que os jogos nos levam ao caminho do conhecimento mútuo, nos convocando para a verdade, assim como são excelentes indicadores de liderança demonstrando os papéis das pessoas em determinado grupo.
Nos demonstrou, através de exemplos vividos, que a sala de aula rica é aquela que oferece possibilidade de alternâncias de emoções, levando nossos ânimos da agitação à quietude. E numa vivencia de retorno à nossa própria infância, nos mostrou que somos seres carregados do que já fomos. Somos, na verdade, um somatóri
o.

"Todas as idades ficam em nós e vão colaborando:
infância, adolescência, juventude, mocidade, maturidade, velhice-aparências do corpo.
A alma faz coleção."
(Alvaro Moreira, Havia uma oliveira no jardim).
E referenciando Freud, conclui "só pode educar quem se reconciliou com sua própria infância".
Nos tornamos quem somos pelas brincadeiras. Quando "brincamos de ser, não precisamos ser". Brincar de ser bandido, brincar de ser princesa, brincar de matar, brincar de morrer...essas contraposições da personalidade, essas experiências que substituem a realidade: A Vicária.
Nos levou também pelas mãos na reflexão dos significados da morte: uma construção de entendimento da permanência da ausência. Entender a perda, a morte, é interiorizar a falta, é "levar o que perdemos dentro de nós".
Naquela noite, cansada e atrasada, pensei se seria importante uma palestra sobre o Brincar. Muitos novos conhecimentos foram agregados. O inesperado, no entanto, foi perceber que os fatos da vida estão presentes sempre, até quando estamos brincando.
Brincando desenvolvemos e expandimos nossos limites externos e internos.
Obrigada, Professora Tania Fortuna!