- Mãe, um homem pode casar com outro homem?
- Pode, filho.
- Mas eu pensei que só podia casar homem com mulher...
- Filho, pode casar homem com homem, mulher com mulher e homem com mulher.
- Ãh...
E, naturalmente seguimos o dia, sem nenhum discurso ou problematização envolvendo o assunto. Não lhe causou espanto minha resposta, não lhe causou repulsa ou indignação, tampouco nojo.
Hoje, no Dia dos Namorados uma boate LGBT foi atacada em Orlando, Flórida. Seja qual for a motivação do ataque, penso que qualquer ataque tenha como motivador principal a intolerância. E nestes dias intolerantes, explico para meu filho que a existência da liberdade de amar da maneira que se deseja.
Seria quase subversivo há um tempo atrás falar sobre amar pessoas do mesmo sexo, que dirá casar-se. Pois vivemos estes tempos. No entanto, ainda vivemos os tempos dos ataques, das violências gratuitas, das intolerâncias e dos preconceitos.
Com meus filhos, com meus alunos, com meus amigos, com todos, reforço a liberdade e a tolerância. Reforço, mais que a tolerância, a aceitação, a empatia e a cidadania. Gostaria de viver em uma sociedade que tivesse valores maiores que os que lhes foram impostos ao longo dos tempos. Gostaria que os valores fossem construídos, vividos de acordo com os sentimentos das pessoas, referidos como verdadeiros a partir do momento que são sentidos.
Nesta sociedade da aceitação, os espantos não existiriam. É amor e ponto. É família e ponto. Não importa quem a constitua.
Vejo como muito provável a possibilidade de que o ataque à boate tenha como motivação a intolerância com a diferença. Vejo como provável a possibilidade de que meu filho tenha entendido com naturalidade o que lhe expliquei hoje. Vejo como possível termos uma sociedade mais humana e menos preconceituosa. Fiquei pensativa de como se constroem nas famílias os conceitos do que "pode" e do que "não pode", do "certo e do errado". E como as crianças estão abertas ao novo, como aceitam as ideias sem preconceito, como convivem bem com o "novo".
Em tempos de lutas, onde as mulheres lutam para não serem responsabilizadas por estupros, ensinar que o amor é livre é uma gota neste imenso oceano. Mas, de gota em gota se fazem as tempestades. Para isso estamos vivos, para mudar.
Que venham as mudança e aprendizados.
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