segunda-feira, 27 de junho de 2016

Sempre bom lembrar!

Sempre achei e sempre acharei pertinente a discussão do assunto. Nos dias atuais, mais do que nunca! Como temos visto questões relacionadas à sexualidade e gênero e seus desdobramentos no ambiente escolar, nas nossas famílias, na sociedade enfim!
Explicar e contextualizar com as crianças sobre estas questões é, além de importante, crucial para desenvolvermos a ideia que tentamos ha tempos: igualdade de gêneros. Quanto à sexualidade, as questões envolvem mais do que os tópicos biológicos (que trabalhamos na escola), mas devem adentrar também nas implicações sociais dos papéis "estabelecidos" para cada gênero e como são expressas as sexualidades de cada um. A sexualidade, se tratada de maneira clara, direta e sem preconceitos, pode clarear toda uma nuvem que paira este assunto; os preconceitos, as violências, as limitações e as hipocrisias. 
Admito, não são questões fáceis, mas a abordagem traz logo muito retorno sob a forma de curiosidade, relatos e dúvidas comuns por parte dos estudantes.
Em uma experiência com meus alunos fiz um trabalho sobre a identidade de cada gênero. Os meninos e as meninas tinham que confeccionar um típico adolescente, como eles. Em conjunto, discutiam as ideias e colocaram no papel os principais componentes que caracterizam a fase que vivem.




















As meninas se caracterizaram com muita sensualidade. Tinham liberdade para se expressar e preferiram se caracterizar de lingerie ou biquini. Os meninos preferiram se caracterizar de roupas. As roupas devidamente identificadas pelas marcas que mais gostam. Na discussão do trabalho relataram que a "guria" tem que ser "sexy" e o "guri" deve demonstrar poder (identificado pelas marcas que ostentam nas roupas). "Se o cara se veste assim a mina sabe que ele tem grana". "As gurias gostam de ser sensuais para chamar a atenção dos caras". 
Esta autocaracterização foi importante para que percebessem que estão enquadrados em estereótipos que, não necessariamente, os caracteriza. As meninas, em parte, discordavam de que "o cara tem que demonstrar poder" e os meninos, por vezes, relataram que "nem sempre ser sexy é o mais importante".
 Este tipo de trabalho, aliado aos conhecimentos biológicos e transformações da adolescência munem nossos jovens para a livre discussão de suas características, suas aflições, suas angústias e pontos de dúvida. Sempre bom lembrar que gênero e sexualidade são temas que são tabu nas famílias. E na escola, protegidos pelo ambiente educacional, o espaço para discutir e crescer é adequado e livre. Que assim seja.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Pode?

- Mãe, um homem pode casar com outro homem?
- Pode, filho.
- Mas eu pensei que só podia casar homem com mulher...
- Filho, pode casar homem com homem, mulher com mulher e homem com mulher.
- Ãh...
E, naturalmente seguimos o dia, sem nenhum discurso ou problematização envolvendo o assunto. Não lhe causou espanto minha resposta, não lhe causou repulsa ou indignação, tampouco nojo.
Hoje, no Dia dos Namorados uma boate LGBT foi atacada em Orlando, Flórida. Seja qual for a motivação do ataque, penso que qualquer ataque tenha como motivador principal a intolerância. E nestes dias intolerantes, explico para meu filho que a existência da liberdade de amar da maneira que se deseja.
Seria quase subversivo há um tempo atrás falar sobre amar pessoas do mesmo sexo, que dirá casar-se. Pois vivemos estes tempos. No entanto, ainda vivemos os tempos dos ataques, das violências gratuitas, das intolerâncias e dos preconceitos.
Com meus filhos, com meus alunos, com meus amigos, com todos, reforço a liberdade e a tolerância. Reforço, mais que a tolerância, a aceitação, a empatia e a cidadania. Gostaria de viver em uma sociedade que tivesse valores maiores que os que lhes foram impostos ao longo dos tempos. Gostaria que os valores fossem construídos, vividos de acordo com os sentimentos das pessoas, referidos como verdadeiros a partir do momento que são sentidos.
Nesta sociedade da aceitação, os espantos não existiriam. É amor e ponto. É família e ponto. Não importa quem a constitua.
Vejo como muito provável a possibilidade de que o ataque  à boate tenha como motivação a intolerância com a diferença. Vejo como provável a possibilidade de que meu filho tenha entendido com naturalidade o que lhe expliquei hoje. Vejo como possível termos uma sociedade mais humana e menos preconceituosa. Fiquei pensativa de como se constroem nas famílias os conceitos do que "pode" e do que "não pode", do "certo e do errado". E como as crianças estão abertas ao novo, como aceitam as ideias sem preconceito, como convivem bem com o "novo".
Em tempos de lutas, onde as mulheres lutam para não serem responsabilizadas por estupros, ensinar que o amor é livre é uma gota neste imenso oceano. Mas, de gota em gota se fazem as tempestades. Para isso estamos vivos, para mudar.
Que venham as mudança e aprendizados.